Como fazer meu filho adolescente se abrir comigo?

Entendendo o Comportamento Adolescente

Enfim, de repente, chegou o novo tempo, o tempo da adolescência, o tempo das dificuldades em dialogar, em ter a liberdade de ser espontâneo e estar com esse ser humano, o filho, que ao adentrar na fase da adolescência foi adquirindo novas formas de expressão, novos jeitos de interpretar as coisas e o que lhe é falado, parece que ficou complicado uma simples explicação sobre as tarefas escolares, sobre falar dos amigos, um questionamento antes inexistente que agora surge com força, um aborrecimento que magoa, ou seja, antes embora na infância haviam condutas a serem ajustadas quanto ao respeito, boa educação e bons modos, agora, tudo mudou, ficou diferente e o estranhamento vai surgindo nessa relação parental.

Inclusive, aquele filho que se abria, se jogava até no colo de forma aberta e espontânea se revelando ao máximo, agora se fecha, já não fala tudo, parece guardar alguns segredos, será por medo? ou por vergonha? ou por, simplesmente, não conseguir transformar em palavras assuntos que de tão simples podem, de forma inesperada, ficar complexo e difícil. Nesse panorama percebe-se o filho silencioso de um lado e a mãe, principalmente a mãe, e o pai, às vezes, transtornados sem saber o que fazer ou falar. Investe e vai em frente e tenta “arrancar” algum segredo desse filho ou “espera com paciência” se ele quiser falar, se ele quiser se expor. O que fazer, então??

Vamos entender sobre esse novo momento: compreender o comportamento do seu filho adolescente é o primeiro passo para estabelecer uma comunicação eficaz. A adolescência é um período de grandes transformações, onde o jovem não é mais criança e está em busca de sua própria identidade. É essencial que os pais entendam que, durante essa fase, o adolescente precisa de ajustes e correções, mas também de muita exaltação e reconhecimento pelos seus acertos.

A psicóloga clínica e educacional Rosana Cláudia Santos enfatiza a importância de valorizar os pontos positivos, pois isso pode ser mais relevante para o desenvolvimento saudável do adolescente do que a constante foco nas falhas. Nesse artigo, Rosana aborda 4 (quatro) pontos principais para que seja possível uma comunicação com diálogo aberto entre pais e filho adolescente, ou seja, para que o filho se sinta confiante em se “abrir” mais com sua mãe ou pai.

1 – Exaltando os Pontos Positivos

Para fazer com que seu filho adolescente se abra com você, é crucial começar exaltando seus acertos. Quando o adolescente é reconhecido por suas ações positivas, ele se sente mais aceito, importante e capaz.

 No dia-a-dia o filho adolescente tem atitudes espontâneas como, por exemplo, esticar o lençol em sua cama, organizar uma almofada que estava caída no tapete da sala, tirar o farelo do pão que está sobre a mesa do café da manhã, colocar os papéis de bala dentro do cesto de lixo e até mesmo levar a sua louça suja (copo, caneca, prato, garrafinhas de água) para a pia da cozinha e, talvez, até lavar corretamente.

Só aqui nesses exemplos, que parecem básicos e simples, há várias situações que merecem reconhecimento, já que não é foco de atenção e interesse de um adolescente que vive imerso em outros tipos de pensamentos, não é mesmo? Até porquê, quem mais se incomoda com essas ações é a mãe ou o pai quando não estão feitas. A organização da casa não é foco de atenção do adolescente devido ao momento em que vive; tempo de transformações e modificações bio-psico-sócio-espirituais intensas; existem outros fatores bem mais importantes e prendem o foco do jovem filho.

Em uma conversa, naturalmente, insira o reconhecimento de que viu e percebeu a ação positiva do adolescente:

 “…que bom você já ter adiantado para mim filho, você já levou a louça para a pia e já lavou, isso me ajudou muito, obrigada…

“…fico muito contente em te ver participativo comigo, hoje até limpou o farelo do pão que estava na toalha da mesa, gosto muito de te ver por perto…”

 Esse reconhecimento atende à necessidade de pertencimento, fazendo com que ele se sinta parte de algo maior e valorizado por suas contribuições. Portanto, antes de apontar o que precisa ser melhorado, certifique-se de destacar e celebrar as conquistas e comportamentos positivos do seu filho.

2 – Estabelecendo um Diálogo de Acolhimento

Um diálogo acolhedor é essencial para que seu filho adolescente se sinta seguro para se abrir com você. Isso significa estabelecer uma comunicação baseada na aceitação e no entendimento, onde o adolescente percebe que tem um espaço seguro para expressar seus pensamentos e sentimentos. Ao oferecer esse tipo de ambiente, você aumenta as chances de seu filho procurar por você quando precisar de apoio ou simplesmente desejar compartilhar algo sobre sua vida.

Aceitação não significa concordar com tudo, mas sobretudo mostrar ao filho que valoriza saber tudo sobre a vida dele, que tudo é muito importante pra você que é mãe ou pai de adolescente.

imagem: pai ou mãe recebendo abraço do filho adolescente

Será na posição de aceitação que o filho se sentirá acolhido e confiante em dialogar. Como mãe ou pai você deve ponderar tudo o que escuta, tudo o que vai refletindo sobre as novas informações que o filho lhe está trazendo. Após escutar até o final, com aceitação em permitir ao filho que se exponha da maneira que conseguir, o que fará o filho se sentir acolhido você entende e confirma com ele sobre esse entendimento. No momento que faz a confirmação do seu entendimento o filho passa a perceber que, realmente, deu atenção a ele, que prestou atenção no que ele lhe falou e, isso por si só reforça o conforto do acolhimento ao filho.

Adolescentes que se sentem acolhidos se revelam, se expõem com mais facilidade devido ao sentimento de pertencimento, se sentir aceito do jeito que consegue ser. Existem muitos filhos jovens que fabricam o seu posicionamento frente ao pai ou a mãe, mas quando saem da presença de seus pais apresentam outros tipos de comportamentos até mesmo negativos. Essa representação de “bom filho” na frente desse pai ou mãe é justamente para evitar receber julgamento, crítica ou por, simplesmente, não se sentir aceito e nem acolhido em suas necessidades reais pelos próprios pais.

3 – Corrigindo Com Empatia e Confiança

Embora seja importante exaltar os pontos positivos, também é necessário corrigir comportamentos equivocados, afinal mãe e pai são os adultos desse relacionamento, devendo dar as direções saudáveis e a garantia de que o filho irá segui-las. No entanto, essa correção deve ser feita com empatia e após estabelecer um vínculo de confiança. Quando o adolescente se sente compreendido e valorizado, ele tende a aceitar a correção de forma mais receptiva e a levar a sério as orientações dos pais. A correção, então, não é vista como uma crítica, mas como um cuidado e um investimento na sua melhoria contínua. De outra forma, quando o adolescente não se sente compreendido e nem valorizado é preciso fazer uma abordagem de aproximação para estabelecer uma conexão, uma sintonia mais saudável com esse filho. E, claro, corrigir dando sentido, é preciso que a correção tenha algum tipo de significado ao filho. Quando o filho é corrigido com a firmeza de uma mãe ou pai, mas não houve um sentido para isso, o filho poderá apenas se sentir ainda mais angustiado e aborrecido com sua mãe ou com seu pai; porém, sem nenhuma transformação ou aprendizado válido nessa correção, simplesmente porque não entendeu o sentido de tal atitude.

Na empatia (colocar-se no lugar do outro e saber o que fazer com o que compreendeu sobre o outro) será possível a compreensão do que se passa, quais os sentimentos, quais as reações emocionais e comportamentais, o que o filho precisa de você. Através da empatia é possível ter mais facilidade para se conectar com esse filho que aos poucos, numa relação de maior confiança, possa se “abrir” com mais liberdade ao seu pai ou a sua mãe.

4 – Fortalecendo o Sentimento de Pertencimento

O sentimento de pertencimento é extremamente importante para o adolescente. Ele busca se identificar com grupos e amigos que o aceite e valorize. Para fazer com que seu filho adolescente se abra com você, é essencial que ele sinta esse mesmo nível de pertencimento dentro de casa. Isso significa que os pais devem se esforçar para entender e participar do mundo jovem do filho, mostrando interesse por suas atividades e amigos, e oferecendo um ambiente onde ele se sinta parte integral da família.

Evidencie seus interesses pelas “coisas” do mundo jovem, como por exemplo: qual série está assistindo, que livro está lendo, do que se tratam essas histórias, compartilhe, troque ideias sobre o conteúdo da série, do livro ou até do game que mais gosta. Entrar no mundo jovem e mergulhar no conhecimento de tudo o que é importante ao filho é uma condição importante para que a confiança desse filho seja firmada.

Conclusão: A Importância da Paciência e Persistência

Fazer com que seu filho adolescente se abra com você não é uma tarefa que acontece da noite para o dia. Requer paciência, persistência e uma abordagem consistente que enfatize a exaltação dos pontos positivos antes de qualquer correção. Lembre-se de que seu filho é como um diamante em processo de lapidação, e você, como pai ou mãe, tem o papel de ajudar a moldar esse diamante sem quebrá-lo.

Com amor, compreensão e a estratégia correta, você fortalecerá sua relação com seu filho adolescente, criando um vínculo de confiança e abertura que durará por toda a vida. Existe a escolha de estar dentro ou fora do mundo jovem do filho adolescente. Se está dentro vai enxergar detalhes importantes sobre os novos interesses dele, e nem sempre o filho precisará lhe contar de tudo, pois você já estará lá respirando esse novo mundo juntamente com ele lhe dando mais autonomia e liberdade numa relação de confiança que vai se instalando, também.  Mas, saiba que estar fora do mundo jovem, não usando da empatia, não compartilhando momentos importantes de descobertas ou até de curtição com o filho as consequências serão de um filho que não confia, se fecha e esconde.

Que tal, então, se conscientizar do quão agradável e necessário é estar dentro do mundo jovem para estar mais próximo e acompanhar essa jornada jovem do filho adolescente que, mesmo estando vivenciando o processo da adolescência necessita demais das atitudes maternas e paternas como autoridade amorosa?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *