Vamos entender isso! Ao longo da jornada de criar um filho, é comum escutar a expressão
“mãe de adolescente sofre à toa”.
Mas será que essa afirmação reflete a realidade? Será que uma mãe de adolescente tem esse tipo de situação? A maternidade, especialmente durante a adolescência dos filhos, é marcada por uma série de desafios e preocupações que são tudo, menos infundadas.
Vamos desvendar os motivos pelos quais essa frase não só desvaloriza os sentimentos maternos, mas também ignora as complexidades inerentes ao crescimento dos jovens.
A verdadeira razão do sofrimento materno
Contrariamente ao que sugere a frase, o sofrimento de uma mãe de adolescente não é infundado.
As mães possuem uma conexão íntima e profunda com seus filhos, o que as torna sensíveis às mudanças e desafios pelos quais eles passam. Uma mãe tem a sabedoria e percepção diferenciada do pai, pois gestou e tem uma atenção de forma mais específica e mais detalhada, o que a faz perceber, por exemplo, quando o filho abre ou bate uma porta de forma diferente do habitual, quando o filho está com um rosto expressando sentimentos confusos ou até mesmo raiva, o que é muito comum na adolescência.
O pai, muitas vezes, por sua qualidade de poder, proteção e provedor tem sua atenção, geralmente, de forma mais abrangente e, assim generaliza os comportamentos vistos por um filho. Já a mãe por sua percepção detalhista consegue perceber minúcias dos gestos, comportamentos ou da comunicação que a instiga pensar que algo não vai bem e assim, a preocupação ou estado de alerta surgem até de forma inesperada causando uma inquietação materna.
Quando o processo da adolescência inicia, com a puberdade, aos 10 anos, seguido da pré-adolescência aos 11/12 anos de idade, as transformações começam a ficar mais visíveis para essa mãe que, até então, lidava com uma criança que, desde a sua gestação e parto, vinha aprendendo as ações necessárias para educá-la na infância. Com o início de um novo processo (adolescência), a mãe se depara com algo completamente novo e diferente, experimentando as emoções de um segundo parto simbólico. É tudo muito novo: ela precisa reaprender como lidar com esse ser humano, que se torna, muitas vezes, desconhecido nas suas reações emocionais e comportamentais.
Além de suas preocupações naturais e do zelo materno, agora ela passa a lidar com o estranhamento desse filho que ainda precisa ser entendido. Essa nova etapa exige da mãe mais empatia, resiliência e capacidade de adaptação. Entre mãe e filho, existe um elo que permite que a mãe perceba quando algo não vai bem, mesmo que não seja algo visível ou concreto. Portanto, o sofrimento materno é uma resposta natural às preocupações e ao cuidado contínuo com o bem-estar dos filhos.
O impacto das mudanças na dinâmica familiar
O surgimento da adolescência impacta toda a dinâmica familiar. O jovem, ao buscar sua independência, muitas vezes resiste à supervisão e orientação materna. Para a mãe, isso pode ser percebido como uma rejeição, aumentando sua sensação de sofrimento. Esse afastamento, embora natural, precisa ser entendido como parte do processo de crescimento do filho e não como uma negação do vínculo afetivo. Nessa nova etapa de vida, o processo da adolescência, o jovem filho está na busca de maior autonomia e liberdade, o que poderá ser confundido pela mãe sensibilizada como uma rejeição.
Além disso, o ambiente familiar se transforma. Rotinas, responsabilidades e até mesmo a comunicação entre os membros da família são afetados. A mãe, que antes tinha um papel central e direto na organização da vida do filho, precisa encontrar novas formas de participar, respeitando a autonomia do adolescente. Esse ajuste, apesar de desafiador, é essencial para promover um relacionamento saudável e equilibrado. A infância acabou e será necessário encontrar novas formas de relacionamento com esse filho que agora já vive as suas transformações biopsicossocioespiritual.
- “Bio” de biológico (o corpo físico vive suas transformações para um futuro adulto)
- “Psico” de psicológico (a psiquê, os sentimentos também sofrem alterações nas suas transformações)
- “Socio” de social (as relações de amizades passam a ter outro tipo de importância sendo ampliada com as novidades de vida que surgem)
- “Espiritual”, no sentido dos valores, princípios, visão de mundo e de manter ou ter novas crenças. Enfim, muitas transformações e modificações que trazem o alerta e preocupação materna para mães mais atentas e sensibilizadas com esse novo período de vida de seu filho.

A sintonia entre mãe e filho
Uma mãe que mantém uma sintonia com seu filho adolescente está mais apta a entender as transformações pelas quais ele está passando. Essa sintonia não é algo que acontece por acaso; é fruto de um relacionamento construído com base na confiança, no diálogo e na presença constante. Mães que participam ativamente do mundo dos seus filhos, seja por meio de atividades conjuntas como esportes ou simplesmente estando disponíveis para conversar, fortalecem esse vínculo e, consequentemente, estão mais preparadas para lidar com as adversidades da adolescência.
Por exemplo, dedicar tempo para entender os interesses do filho, como música, jogos ou hobbies, demonstra ao jovem que ele é valorizado e compreendido. Essa atitude não só fortalece o vínculo, mas também reduz a sensação de isolamento que muitos adolescentes enfrentam.
Os desafios da adolescência e o papel da mãe
A adolescência é um período de intensas mudanças físicas, emocionais, sociais e espirituais. Os jovens estão em busca de sua própria identidade, o que pode levar a comportamentos de afastamento e busca por privacidade. Isso pode ser mal interpretado como um sinal de que a mãe não é mais necessária. No entanto, é justamente nesse momento que o adolescente precisa de orientação e apoio.
A mãe, ao observar essas mudanças, pode sentir-se preocupada e até mesmo sofrer ao ver o filho enfrentando desafios, mas esse sofrimento é um reflexo do amor e do compromisso com a formação do filho. Além disso, os desafios da adolescência, como a pressão social, o desempenho escolar e os relacionamentos, exigem que a mãe esteja atenta e preparada para oferecer suporte emocional e prático. Reconhecer esses desafios e buscar abordá-los de maneira positiva é uma das formas de transformar o sofrimento em aprendizado e crescimento mútuo.
Comunicação e compreensão no relacionamento mãe-filho
Estabelecer uma comunicação eficaz é essencial para entender as necessidades e comportamentos dos adolescentes. Mães que se comunicam abertamente com seus filhos têm mais chances de identificar sinais de problemas e de oferecer o apoio necessário. Entender os diferentes estilos de comunicação dos adolescentes, principalmente por estarmos vivenciando a “era da tecnologia/informação”, e adaptar-se a eles pode ajudar a mãe a manter uma relação saudável e a evitar mal-entendidos. A comunicação é a chave para que a mãe não sofra “à toa”, mas sim, se posicione na educação do filho adolescente de forma consciente e proativa.
Por exemplo, ao invés de apenas repreender um comportamento inadequado, a mãe pode buscar entender as razões por trás dele e propor um diálogo. Frases como “Me explique o que aconteceu” ou “Como você se sentiu?” mostram ao adolescente que ele é ouvido e respeitado, criando um ambiente mais propício para a resolução de conflitos.
A importância do autocuidado para as mães
É fundamental lembrar que as mães também precisam cuidar de si mesmas. O sofrimento materno, muitas vezes, é intensificado pela sobrecarga de responsabilidades e pela falta de atenção às próprias necessidades. Investir em momentos de autocuidado, como praticar exercícios físicos, buscar apoio emocional ou dedicar tempo a hobbies pessoais, pode ajudar a mãe a enfrentar os desafios da adolescência com mais equilíbrio e serenidade.
Além disso, buscar suporte em grupos de mães ou terapia pode ser uma excelente forma de compartilhar experiências e aprender novas estratégias para lidar com os desafios da maternidade. Quando a mãe está bem consigo mesma, ela tem mais energia e disposição para cuidar do filho e construir um relacionamento saudável.
A influência das mudanças culturais e tecnológicas
Outro aspecto que não pode ser ignorado é o impacto das mudanças culturais e tecnológicas no relacionamento entre mães e filhos. A geração atual de adolescentes está crescendo em um mundo digital, onde as redes sociais, os aplicativos de mensagens e os jogos online desempenham um papel central em suas vidas. Para muitas mães, essa realidade é um território desconhecido, gerando ansiedade e dificuldade de conexão.
Compreender e aceitar essas mudanças é crucial para construir um relacionamento positivo. Isso não significa concordar com tudo ou permitir o uso irrestrito da tecnologia, mas sim buscar um equilíbrio. Participar das conversas sobre o uso saudável da tecnologia, conhecer as plataformas utilizadas pelos filhos e estabelecer limites claros são atitudes que podem ajudar a mãe a se sentir mais segura e conectada ao universo do adolescente.
Fortalecendo o vínculo através de experiências compartilhadas
Criar momentos de conexão é uma forma poderosa de fortalecer o vínculo entre mãe e filho. Atividades simples, como cozinhar juntos, assistir a um filme ou praticar um esporte, podem ser oportunidades valiosas para construir memórias afetivas e promover um diálogo aberto. Esses momentos ajudam a reduzir as tensões do dia a dia e mostram ao adolescente que ele é valorizado e amado.
Além disso, investir em experiências que permitam ao jovem explorar seus interesses e talentos, com o apoio da mãe, é uma maneira eficaz de reforçar o vínculo. Seja acompanhando-o em uma apresentação escolar, apoiando um projeto ou simplesmente mostrando interesse genuíno em suas conquistas, essas atitudes fortalecem a relação e reduzem o sofrimento materno.
Conclusão: O sofrimento materno é real e válido
Em conclusão, a frase “mãe de adolescente sofre à toa” é uma simplificação injusta da complexa realidade da maternidade durante a adolescência dos filhos. O sofrimento de uma mãe é uma resposta natural às preocupações inerentes ao crescimento e desenvolvimento dos jovens. Ao invés de desvalorizar esses sentimentos, é importante reconhecer a importância do papel da mãe e a validade de suas emoções.
Através da sintonia, comunicação e compreensão, mães podem navegar pelos desafios da adolescência ao lado de seus filhos, fortalecendo o vínculo familiar e contribuindo para o desenvolvimento saudável dos adolescentes. Mais do que isso, é essencial que as mães cuidem de si mesmas, buscando equilíbrio e apoio para enfrentar essa fase tão desafiadora quanto transformadora.