O que acontece que meu filho adolescente não me escuta!?

Desafio da Comunicação na Adolescência


A comunicação entre pais e filhos pode tornar-se um verdadeiro desafio durante a adolescência. Muitos pais se veem repetindo a frase “meu filho adolescente não me escuta”, sem entender o que está por trás dessa aparente desconexão. A adolescência é um período de grandes mudanças, tanto para os jovens quanto para seus pais, e entender essas mudanças é essencial para melhorar a comunicação e fortalecer o relacionamento. Também será fundamental que se tenha a compreensão certa da diferença entre ouvir e escutar, pois podem parecer iguais, mas têm uma distinção específica que contribui no momento da comunicação entre pais e filhos.

Ouvimos algo de forma mecânica, pois temos o órgão do sentido da audição, o que acontece além da nossa vontade; podemos, inclusive, nos negar a ouvir tapando os ouvidos. Quando escutamos, agimos com a nossa vontade de “prestar atenção”, desejamos entender o que está sendo falado para nós, buscamos mais informações para compreensão e reflexão; trata-se de uma busca para, depois de entender e assimilar, saber se vamos concordar ou não e acatar ou não o que foi dito. Esse conceito revela que, geralmente, o adolescente apenas ouve seus pais para não causar mais conflitos/confusão; porém, não escuta e, por isso, não entende o que lhe foi dito e tampouco acata as orientações recebidas.

Assim, é fundamental que a mãe ou pai se certifique de que o filho escutou, compreendeu e qual o retorno dará em suas ações. Por exemplo, diga para seu filho para se certificar:

“Filho, o que você entendeu sobre o que acabei de falar com você? O que você pensa sobre isso?”.

Deixe o filho falar o que entendeu e, se houver dúvidas, ainda haverá tempo oportuno para novas explicações e orientações até que haja entendimento e concordância. A comunicação tem dois lados: quem emite a mensagem (informações) e quem as recebe. Se somente um lado funcionar, não existe comunicação eficaz.

Compreendendo o Comportamento Adolescente

Os adolescentes estão em uma fase de transição, deixando para trás a infância e caminhando em direção à vida adulta. Nesse processo, eles buscam independência, formam suas próprias opiniões e começam a questionar as autoridades, incluindo seus pais. Será preciso ter a consciência de que a adolescência é a ponte que levará o filho da infância ao mundo adulto e na transição dessa ponte (a adolescência) há variações de comportamentos, busca de novos ideais, alterações na comunicação e desenvolvimento de habilidades, pois além do emocional o físico (corpo) também está em evolução nas suas diversas transformações.

Quando os pais se queixam de que seus filhos não os escutam, muitas vezes isso acontece justamente porque estão falando com eles como se ainda fossem crianças, sem reconhecer que agora são jovens em busca de respeito e entendimento. Além disso, o repertório de vida também se transforma: tipos de músicas, filmes, seleção de alimentos, moda jovem, práticas esportivas e atividades específicas de sua galera surgem nessa transição. Acabou a infância; agora é o processo da adolescência.

É importante lembrar que, nessa fase, o cérebro do adolescente ainda está em desenvolvimento, especialmente as áreas responsáveis pelo controle das emoções e pela tomada de decisões. Isso significa que eles podem reagir de forma mais impulsiva e, às vezes, ter dificuldade em compreender as consequências de suas ações. Entender essa realidade biológica pode ajudar os pais a serem mais pacientes e a adaptar suas estratégias de comunicação.

A Importância da Escuta Ativa

Antes de questionar por que o filho adolescente não escuta, é importante que os pais se perguntem se estão realmente ouvindo seus filhos. A escuta ativa é uma ferramenta poderosa na comunicação, pois mostra ao adolescente que suas opiniões e sentimentos são valorizados. Quando os pais escutam de verdade, criam um ambiente de confiança e abertura, onde o jovem se sente mais confortável para compartilhar e escutar também.

Pergunte-se:

“Quando foi a última vez que tive uma boa conversa com meu filho adolescente ou saímos juntos para tomar um lanche, passar numa livraria ou até mesmo dar uma volta no bairro numa caminhada que promove a boa conversa?”

Esses momentos são essenciais para criar um vínculo emocional mais forte, que servirá como base para uma comunicação mais eficaz.

A escuta ativa também envolve prestar atenção à linguagem corporal e ao tom de voz do adolescente. Muitas vezes, o que eles não dizem explicitamente pode ser mais revelador do que suas palavras. Os jovens apresentam uma linguagem sem palavras e seus gestos, sons, comportamentos, até mesmo a forma de andar ou fechar uma porta de forma diferente do comum no dia a dia já diz muito, já comunica, por isso é fundamental se atentar aos tipos de linguagens jovens, inclusive a que não usa as palavras. Em todo o tempo o jovem filho está comunicando algo a sua mãe ou ao seu pai.

 Demonstrar empatia e a busca de compreensão, mesmo diante de opiniões ou comportamentos desafiadores, é fundamental para construir uma relação de respeito mútuo. Muitas vezes, a mãe ou o pai estará diante de uma argumento, ideia ou visão de mundo ou situação que não concorda, mas ao aceitar recepcionar tudo o que vem do filho para a busca de compreensão fará esse adolescente se sentir acolhido, importante, pois sua mãe ou pai se mostram dispostos ao entendimento e, logicamente, depois da compreensão, aí sim, poderá vir a orientação sobre o porque não será possível a concordância, mesmo tendo compreendido o que o filho está informando ou revelando. Nessa situação é preciso evidenciar argumentos que mostrem o quanto os pais se preocupam e se dispõem a decisão do que é melhor para esse filho levando em consideração as queixas, opiniões e/ou desejos desse jovem filho.

Adaptando a Comunicação à Adolescência

A comunicação eficaz com um adolescente requer uma adaptação por parte dos pais. O que funcionava na infância pode não ser mais efetivo. Os pais precisam reconhecer que seus filhos estão crescendo e que a forma de se comunicar deve evoluir junto com eles. Isso significa respeitar suas opiniões, dar espaço para que expressem seus pensamentos e sentimentos, e dialogar mostrando que há interesse nas coisas que são importantes para o filho e que fazem parte de seu mundo jovem.

Por exemplo, se o filho está interessado em jogos de videogame, os pais podem fazer perguntas sobre o jogo ou até tentar jogar juntos. Mostrar curiosidade genuína pelo universo do adolescente ajuda a criar uma conexão mais profunda e demonstra que os pais valorizam suas escolhas e interesses.

Outra estratégia é ajustar o tom e a linguagem durante as conversas. Evite sermões ou discursos longos e, em vez disso, opte por diálogos curtos e objetivos. Perguntas abertas, como “O que você acha disso?” ou “Como você se sente sobre isso?”, podem encorajar o adolescente a se expressar mais livremente, o que também denota ainda mais o interesse da mãe ou pai sobre tudo o que é importante para esse jovem filho.

Identificando as Causas da Desconexão

Quando um adolescente parece não escutar, é essencial identificar as causas dessa desconexão. Pode ser que o jovem esteja se sentindo subestimado, desrespeitado ou simplesmente não compreendido. Os pais devem estar atentos aos sinais e buscar entender o mundo do adolescente com o repertório jovem mais acessado pelo filho (músicas, games, esportes, moda, maquiagem, assuntos científicos, skate, lugares de encontros jovens, etc), suas preocupações e interesses diferentes que muitas vezes até não são interessantes ou adequados segundo a visão dos pais, mas que são muito acessados pelo jovem filho.

Entender o que está motivando o comportamento do adolescente pode ajudar a ajustar a abordagem dos pais. Por exemplo, se o filho parece estar distante ou desinteressado em conversar, pode ser um sinal de que ele não sente que suas opiniões são valorizadas. Nesse caso, abrir espaço para que ele fale sem interrupções ou julgamentos pode ser um primeiro passo para restabelecer a conexão.

Também é importante observar se fatores externos, como dificuldades escolares, amizades problemáticas ou o uso excessivo de tecnologia, estão contribuindo para a desconexão. Conversas honestas e abertas sobre esses temas podem ajudar a identificar possíveis obstáculos à comunicação.

Estabelecendo Limites e Expectativas Claras

Embora seja importante tratar os adolescentes com respeito e compreensão, também é essencial estabelecer limites e expectativas claras. Os pais devem comunicar de forma assertiva o que esperam de seus filhos, incluindo horários, responsabilidades e comportamentos aceitáveis. Quando os adolescentes entendem claramente o que se espera deles, é mais provável que escutem e sigam as orientações.

Uma abordagem eficaz é envolver o adolescente no processo de definição de regras e consequências. Isso pode incluir discussões sobre por que certas regras são importantes e como elas beneficiam toda a família. Quando os jovens se sentem parte do processo, tendem a aceitar melhor as limitações impostas.

Além disso, é essencial ser consistente na aplicação das regras. Mensagens contraditórias ou a falta de consequências claras podem confundir o adolescente e enfraquecer a autoridade dos pais. Por outro lado, reconhecer e elogiar comportamentos positivos pode reforçar o cumprimento das expectativas.

A Importância do Exemplo

Os pais são os principais modelos de comportamento para seus filhos. Demonstrar as habilidades de comunicação que desejam ver no adolescente, como compreensão, empatia e respeito é crucial. Se os pais esperam que seus filhos escutem, eles também devem estar dispostos a escutar.

Além disso, é importante que os pais mostrem como lidar com conflitos de forma construtiva. Isso pode incluir pedir desculpas quando necessário, admitir erros e buscar soluções conjuntas para os problemas. Essas atitudes não apenas fortalecem a relação, mas também ensinam habilidades valiosas para a vida adulta do adolescente.

Conclusão: Construindo Pontes de Comunicação

“Meu filho adolescente não me escuta” é uma queixa comum, mas que pode ser superada com compreensão, empatia e estratégias de comunicação adaptadas à adolescência. Ao reconhecer as mudanças pelas quais os jovens estão passando, escutar ativamente e respeitar sua crescente independência, os pais podem construir pontes de comunicação mais sólidas. Isso não apenas melhora o relacionamento presente, mas também estabelece uma base de confiança e respeito mútuo para o futuro. Lembre-se que o que for construído e firmado durante o processo da adolescência vai reverberar no futuro relacionamento de adulto com sua mãe ou com seu pai.

Perceba sempre que a comunicação com um adolescente é um processo contínuo, que exige esforço, disposição e dedicação. Com as abordagens certas, é possível transformar desafios educativos com o jovem filho em oportunidades para fortalecer os laços familiares nos relacionamentos e na comunicação e, também, preparar o jovem para uma vida adulta mais equilibrada e segura, já que a construção do futuro adulto é feita durante todo o processo educativo na adolescência.

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